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Fila do SUS para cirurgias continua longa e bate recorde desde a pandemia

Cabeleireira, por exemplo, enfrentou uma espera angustiante de dois anos para retirar um tumor

A espera por cirurgias no Sistema Único de Saúde (SUS) alcançou um nível preocupante após a pandemia, com pacientes tendo que aguardar, em média, 52 dias neste ano. Isso é um dia a menos que em 2023, conforme relatado pelo jornal O Globo.

A cabeleireira Lígia Miranda chegou a esperar dois anos e dois meses: “Se tivesse feito a cirurgia no tempo certo, não teria sido mutilada”, depois de enfrentar uma espera angustiante para retirar um tumor em um hospital de Brasília.

A demora prolongada pelo atendimento na cidade principal do país desvenda os obstáculos que apareceram no sistema público após o término da pandemia de Covid-19. O intervalo médio para uma cirurgia continua em um nível sem precedentes.

Os dados do Ministério da Saúde foram adquiridos através da Lei de o à Informação (LAI). Utilizando informações do Sistema Nacional de Regulação (Sisreg), um programa do Ministério da Saúde que recebe informações dos Estados e municípios, o Globo desenvolveu uma ferramenta que possibilita a consulta do tempo médio de espera em cada unidade federativa.

Dados sobre casos de cirurgia e consultas especializadas, que atingiram um recorde no ano ado, podem ser obtidos. De acordo com as informações desta ferramenta, é possível descobrir que o tempo para cirurgias oncológicas pode atingir até 188 dias, um prazo alarmante, especialmente levando em consideração a existência de uma lei que exige o início do tratamento dentro de 60 dias.

A incongruência entre a legislação e a realidade destaca as deficiências no sistema de saúde. Lígia segue enfrentando obstáculos e aguardando medicamentos. A partir de dezembro, ela está na fila por radioterapia e expressa sua frustração:

“Fiquei muito tempo na fila esperando”, observa ela. “Depois que eu fiz a cirurgia, eu precisaria fazer a quimioterapia em até três meses para matar o câncer de vez, mas eu fui chamada só sete meses depois. Aí o médico disse que, como havia ado muito tempo, seria melhor fazer radioterapia”.

Agora sob a liderança de Alexandre Padilha, o Ministério da Saúde alega que a prioridade é a redução das filas e que em 2023 houve um recorde de cirurgias eletivas. A ex-ministra Nísia Trindade deixou seu posto em grande parte devido às dificuldades que, segundo o governo federal, mostrou em fazer progressos com o Programa Mais o a Especialistas, que foi lançado em abril do ano anterior.

O programa tinha como meta agilizar o atendimento ao público nas cinco especialidades mais requisitadas (oncologia, oftalmologia, cardiologia, ortopedia e otorrinolaringologia). Além disso, havia também razões eleitorais envolvidas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exige progressos nesta área, com a intenção de fazer do programa uma plataforma eleitoral para 2026.

O ministério declarou em nota que tem adotado iniciativas que já ajudaram a reduzir as filas. Relatou que “registrou recorde histórico” de cirurgias eletivas em 2023. “Foram mais de 14 milhões de procedimentos realizados, um crescimento de 37% em relação a 2022.”

Conforme o Globo avança, os dados sobre a realização de cirurgias indicam um aumento no tempo de espera dos pacientes após a pandemia de Covid-19. Em 2019, um ano antes da emergência sanitária, a média de espera, englobando todos os tipos de procedimentos, era de 31 dias. Esse período aumentou para 51 dias em 2022 e alcançou os mencionados 52 dias neste ano.

Durante a pandemia, os “agendamentos para cirurgias eletivas” — procedimentos que não são considerados de urgência médica — foram suspensos para permitir que os leitos hospitalares fossem ocupados por pacientes de Covid, conforme relatos de especialistas. Essa situação resultou em uma acumulação que ainda não foi solucionada até o presente momento.

Em entrevista ao jornal, Marília Louvison, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que o problema é o reflexo de uma questão estrutural do sistema. De acordo com ela, a pandemia, por si só, não serve como justificativa.

“O SUS já vinha lidando com uma fila de espera grande há algum tempo”, afirmou a pesquisadora. “É um problema estrutural. E é preciso primeiro qualificar essa fila. Muitas pessoas estão na fila, mas já pagaram por cirurgias, por exemplo, e não tem ninguém que vai no sistema tirar uma pessoa da fila.”

Gargalo na fila do SUS

Há um obstáculo no atendimento da rede pública que se estende além das longas filas para cirurgias. A consultora de moda, Amanda Frazão, de 37 anos, relata que obteve uma resposta rápida do SUS quando foi diagnosticada com um tumor mamário em julho de 2021. Amanda reside em Maceió (AL). No entanto, ela teve que aguardar cinco meses para marcar uma sessão de radioterapia após a cirurgia.

“Demorou bastante”, ressaltou Amanda. “Fiz a cirurgia em junho de 2022 e deveria fazer a radio logo depois, mas o maquinário estava quebrado. Só consegui fazer em novembro de 2022.”

A solução para reduzir as filas na rede pública, segundo Karen de Marca, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), seria a contratação de mais médicos especialistas, o que requer maiores investimentos. Ela destaca que em certos lugares, a infraestrutura necessária para a realização de cirurgias é insuficiente.

A cirurgia de glândulas endócrinas está entre as intervenções com maior tempo de espera. No ano ado, a demora no Rio Grande do Norte chegou a 313 dias.

“A primeira coisa que a gente tem é déficit de profissionais”, afirma Karen. “Os salários são muito abaixo do mercado privado. Além disso, muitas instituições não têm o e e infraestrutura para tantas cirurgias, não há salas reformadas. Talvez sejam os dois principais fatores: falta de locais para as cirurgias e falta de recursos humanos para trabalhar.”

As informações são da Revista Oeste

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