
Nestes quinhentos anos de história documentada do Pantanal, um antigo conflito das nações indigenas originárias ou ser considerado permanente neste espaço geográfico, onde sempre existe alguém lutando para impedir que outrem possa navegar livremente por estas águas, na atualidade até alegam uma impossível mudança de declividade no seu caminho para o mar.
No Século 16, digladiavam-se duas potências coloniais e dois desbravadores chegaram até as montanhas de prata dos Andes, o português Aleixo Garcia, partindo da Ilha de Santa Catarina e seguindo por terra, a mística e milenar trilha indígena do Peabiru.
O espanhol Juan de Ayolas conseguiu subindo o Rio Paraguai, achar o local exato por onde ara de ida e volta seu antecessor e também atingiu as montanhas de prata dos Incas.
Um pequeno índio Chané, chamado Lorenzo foi o único sobrevivente dessa expedição, e relatou o que acontecera tanto ao português que sua tribo havia acompanhado até o Morro do Chané, como ao espanhol ambos massacrados por diferentes tribos, tentando coibir essas andanças livres pelo Rio Paraguai nos seus domínios.
Dois outros espanhóis deixaram testemunhos de sua aventuras nesta rota do Peabiru, o Adelantado Álvaro Nuñes Cabeza de Vaca, autor do livro “Comentários” onde em vários capítulos interage com “los chaneses” trazidos por Aleixo Garcia e visitados por Juan de Ayolas e um de seus sucessores também chamado Cáceres.
Este último em 1550 e anos seguintes, acumulou na Foz do Rio da Prata em Buenos Aires, rebanhos de gado bovino, equinos e ovinos, transportados a duras penas desde a Península Ibérica e aclimatados até poderem ser conduzidos a Assunção.
Ocorre que quando o rebanho se aproximava daquela localidade, foram atacados à noite, e todos os animais, em formidável estouro, fugiram para os campos do Chaco…
Vem desta sortida, atribuída aos guaicurus, a origem nos séculos posteriores do incontável rebanho pantaneiro de gado vacum, bem como estabeleceu a simbiose entre guaicurus e cavalos.
O francês Debret baseado em informações ilustrou una carga de cavalaria dos guaicurus, com os índios mimetizados ou escondidos ao longo da barriga dos cavalos.
Peço ao leitor que tente me acompanhar na descrição de uma vaquejada no Pantanal, fechado o gado e marchando para o curral, destacou-se logo um boi de cabeça levantada, que “experimentou” desde o ponteiro aos fiadores e a culatra, depois aparentemente escolheu o ponto ideal na esteira de um peão derreado no arreio, emborcado, parecendo dormitar.
No instante em que furou o limite, cabeça erguida estudando a corrida, uma transfiguração aconteceu, num átimo como um raio, cavalo e peão se fundiram num mitológico centauro, e o mundo escutou o troar dos cascos, o boi achou-se vitorioso ao peão cruzar por trás o seu rastro, e foi assim que o tirão do laço aconteceu, e ele fincou e virou…
Acordou desmoralizado com o peão, contendo-o para confecção do oito nas guampas, solto, ficou respirando até que o oito o puxou no rumo da vaquejada, e o livrou automaticamente quando baixou a cabeça e foi se esconder no meio da vacada.
Ao observador atento, mesmo nos dias de hoje é possível ver homem e cavalo se transfigurar num só elemento, mostrando a interação existente entre o pantaneiro e seu cavalo de lida.
Merecedor de quadro clássico ou de estátuas que também eternizam essa visão, para o pantaneiro, entretanto, trata-se de cena comum, homem e cavalo, executando num mágico momento, a missão conjunta que só eles poderiam realizar.
O Pantanal expõe sem impor, que nos fatos históricos do ado, encontraremos a trilha do presente, que poderá nos conduzir a melhor futuro.
Armando Arruda LacerdaPorto Sâo Pedro