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25 anos de concessão, aceitar escombros como devolução?

No Pantanal, não por saudosismo, mas procurando evitar repetição erros, buscamos, na sabedoria dos relatórios pretéritos, situações que possam corresponder a indagações ou contestar afirmações que diuturnamente vemos estampadas nas mídias.

Como exemplo, encontrei na descrição do Caminho do Peabiru, conforme a trilhou Sylvio Dinarte, pseudônimo de Alfredo d’Escragnolle Taunay em ‘Céos e terras, scenas e typos’ : “- A estrada que atravessa essas regiões incultas desenrola-se á maneira de alvejante faixa, aberta que é na arêa, elemento dominante na composição de todó aquelle solo, fertilisado aliás por um sem numero de límpidos e borbulhantes regatos, cujos contingentes são outros tantos tributários do rio Paraná e do seu contravertente o Paraguay.”

Sim, reafirmamos que haviam vários caminhos, que convergiam desde São Paulo pelos rios e por terra, depois seguiam para N bordejando a Amazônia, e para o S onde se encontravam com caminhos vindos de Santa Catarina e convergiam todos a O do Pantanal, seguindo daí para os Andes, caminhos tão visíveis, que facilitavam serem seguidos…

Caminho de gente feio é por onde veio, trata-se de um reducionismo irônico da cultura do Pantanal, quem conhece sua origem, o “de onde veio”, encontrará o rumo para almejar melhor condição ou como Taunay cantou, conseguir mesmo na retirada da derrota, encontrar o feito heróico, não perdendo nenhuma das baterias dos imprescindíveis canhões…

Matar oportunidades, pela força econômica ou política sazonal, omitindo contingências físicas, geográficas e perenes obras de arte que as tornaram viáveis e competitivas, sempre trará , a fatalidade do tempo e recursos perdidos dispendidos nesse equivocado atalho, frágil pinguela sazonal e descartável…

Tenho descendentes nascidos na cidade que se originou da ferrovia, virou até capital por conta da riqueza que tal ferrovia proporcionou, mas criou um tipo de vaidosa presunção no povo que aglomerou, que agora introjetaram serem profetas, insensíveis à sentença aos que desonram quem os criou e nutriu: “- A abreviação dos seus dias sobre a terra que o Senhor, teu Deus, te deu.”

Esta menção trágica nos impõe repudiar manchetes tipo ” O Rio Paraguai contra o fim do mundo”, recheado de contradições e sofismas, como racionalizar tese de que desassorear um rio de planície, dos sedimentos recentes que aram a descer do Planalto, ou mesmo reter estes sedimentos por lá, seria o fim do mundo para o próprio rio?

Numa planície úmida com décadas de acúmulo de adubos lixiviados do Planalto e turfas da própria vegetação acumulada decomposta, retirarem os animais de criação em áreas tornadas estéreis esperando com isso criar mais vida, equívoco tóxico comprovadamente importado, onde quanto mais se aumenta a dose, mais incêndios e destruição ocorrem.

No paraíso da herbivoria, uma imensa fauna nativa complementou-se com o gado vacum, equino e ovino subtraído no ado aos espanhóis e espalhado pelo Pantanal, história de inédita sustentabilidade que em vez de levá-los a racionalizar, somente exacerba seus pré conceitos e lendas urbanas contra o universo rural.

Ao encontrar nos relatórios antigos, as primeiras vacas a chegar, descobrimos que foram 7 vacas e 1 touro trazidas por um tal Gaete, e o trabalho por terra e balsas para chegar até Asuncion, acontecimento de tal modo monetizado que cunhou até mesmo um provérbio, designando qualquer valor irreal naqueles tempos : “- Son más caras que las vacas de Gaete.”

A maldição de que as desgraças voltam para atingir os que não aprenderam com o sofrimento, ou mesmo aos que sufocam as advertências, insistindo em seguir castrando Corumbá de seu destino de principal guardiã comercial do extremo Oeste, mesmo incrustada em pedra, nos limites das áreas úmidas da planície pantaneira.

Nesta cidade onde viceja uma cultura que forma indivíduos com profunda adaptação às imponderabilidades e inconstâncias do ambiente, correndo iminente risco do Pantanal ser condenado a virar uma creche para adultos, istrada e supervisionada por Institutos governamentais e não governamentais, que multiplicarão exigências e proibições.

E o pantaneiro afogado em dificuldades, muitas artificialmente agravadas, só consegue por hectare um percentual ínfimo do valor de 1 Vaca boiadeira, mas depois da escritura ada, tais “investidores” arão a receber por esse mesmo hectare, agora protegido, valores “mucho más caros que la suma de todas las vacas de Gaete !”

Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro

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