

Nesta semana vimos muitas reportagens com narrativas semelhantes mas assinadas por distintos redatores, em diferentes órgãos da mídia regional, bastando buscar nos canais das ongs, para encontrar o release original, escandalosa denúncia para acionar a ira dos que se contentam, tão somente, em confiar nas tragédias em manchetaria caixa alta.
Repete-se tal histeria ano a ano, denunciando o Município de Corumbá, que, por ocupar parte substancial do território sul matogrossense e da planície do Pantanal, torna-se presa fácil para quem insiste em desconhecer as proporções relativas à sua magnitude geográfica.
Os produtores pantaneiros aceitaram todos o ônus contido na nova Lei do Pantanal, confiantes que a definição de planície pantaneira como AUR ou Área de Uso , que os livraria dos mal-entendidos e das insaciáveis garras dos impostos que levaram as áreas sob inundação permanente, sobretaxadas por improdutividade, impondo como única saída aos coagidos moradores tradicionais, a venda na bacia das almas, para corretores intermediários de poderosos e ocultos “investidores”.
Quando essa campanha de propaganda para difamar a benéfica e comprovada simbiose entre a pecuária dos “fazendeiros pantaneiros” e a conservação do Pantanal, até com lista de malfeitores, cristaliza evidências de narrativas destinadas a ocultar, através de irracional linchamento, a verdadeira destruição que ocorre
sistematicamente, nas áreas de reservas “protegidas” no Pantanal.
De nada adiantou, há poucos anos a advertência do Método MapBiomas Água: “-Esses resultados são preliminares porque os dados de referência nestas análises NÃO foram obtidos para o propósito de mapeameamento de superfície de água.”
Não obstante o aviso, as manchetes dos órgãos de mídia regional tonitroavam à exaustão, apocalípticas diminuições da superficie de água no Pantanal…
Pouco adianta também a advertência atual : ” – A plataforma MapBiomas Alerta, reporta alerta de perda da vegetação nativa, independentemente do rendimento lenhoso, validados em imagem de satélite de alta resolução. Importante ressaltar que não há qualquer tipo de definição do MapBiomas sobre legalidade, regularidade, responsabilidade e/ou acordada dos alertas validados e publicados na Plataforma.”
Clara manifestação de que a falta de indicação acordada, possibilita serem usadas por terceiros de má fé, como cortina de fumaça visando encobrir como “desmatamento” para uso pecuário, as extensas cicatrizes na vegetação original, consequência de incêndios oriundos das tais “reservas”.
Será possível que esse método, com essas estratégias e maquinações dos poderosos, poderão seguir eclipsando até destruir a humilde criação oriunda da miscigenação de tantas culturas diferentes, cuja convivência historicamente harmoniosa entre a economia do homem, a fauna e a flora, culminou com uma verdadeira civilização pantaneira?
Sobre chuvas e águas, o geólogo gaúcho Douglas Trainini afirma que após caírem, comportam-se e sofrem de efeitos fisicos conhecidos através da sigla REI : Rolamento, Evaporação e Infiltração.
Nos planaltos evidentemente que rolam com velocidade, só infiltrando em lugares que a vegetação quebra essa velocidade e nas planícies correm lentamente com a evaporação acentuada, lembrando que os rios de planície seguem lentamente nessa superfície quase plana, criando meandros ou curvas, onde naturalmente escavam as margens côncavas depositando sedimentos nas margens convexas…
Se tirarmos a vegetação das apps no planalto e nos cerrados, a água rolando mais rápido, cria voçorocas arrastando enorme cargas de sedimentos, não dando tempo para infiltração ou evaporação, causando a elevação do fundo nos leitos dos lentos rios da planicie, onde as réguas originais marcavam, mesmo na graduação zero, antigos canais profundos.
Se continuarmos não recuperando o canal para aumentar a quantidade do acúmulo de água e do rolamento na planície, nem diminuirmos a velocidade de rolamento nos planaltos , aumentando a necessária infiltração nessas esponjas d’água, o REI continuará nos sujeitando a cada chuva, ou ausência dela, a eventos climáticos catastróficos, no lugar de pulsos naturais sustentáveis de cheias e secas …
O Pantanal expõe, sem impor: Está mais do que na hora de chamarmos auditoria legal, científica e técnica para reconfirmar que desassorear rios e deter sedimentos fora da planície, possibilitará torná-la apta a chegar a um destino futuro de conservação, através da pecuária sustentável.
Deveria ser aceito que cabe ao pantaneiro reassumir suas plenas funções como únicos guardiões desse bioma, fruto de sua histórica convivência com as mudanças de seca para cheia e vice versa, já que conhecem e coexistem secularmente com os efeitos físicos REI nesta AUR – Pantanal.
Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro