
O presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, declarou nesta sexta-feira (31) que o déficit de R$ 3,2 bilhões da estatal em 2024 seria consequência da tentativa de privatização durante o governo Bolsonaro e da “taxa das blusinhas”, como é popularmente conhecido o Programa Remessa Conforme.
A fala ocorreu após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, em meio à divulgação do rombo de R$ 6,7 bilhões nas estatais federais, conforme dados do Banco Central.
Correios Foram “Sucateados” para Privatização?
Fabiano argumentou que os Correios foram deliberadamente enfraquecidos para serem vendidos ao setor privado, o que teria resultado na falta de investimentos e modernização:
“Os Correios foram preparados para ser privatizados. Os Correios foram sucateados. Não se tinha investimento em tecnologias. A gente tem grandes empresas que investem em robotização das operações, que investem em modernização do seu parque tecnológico e isso é vital para uma empresa como os Correios. Então esse sucateamento é um preço muito alto que a empresa faz. E isso sim, nós estamos trabalhando com muita dedicação para inovar.”
No entanto, a justificativa do presidente da estatal ignora anos de ineficiência operacional, baixa competitividade e gestão questionável, que há tempos afetam os Correios. O problema da empresa não surgiu apenas na tentativa de privatização; pelo contrário, a ideia de vendê-la surgiu justamente porque o modelo estatal se mostrou incapaz de acompanhar o setor privado.
A comparação com empresas privadas que investem em robotização e modernização reforça um ponto que Fabiano parece ignorar: os Correios permaneceram ultraados por escolha política, não por um plano de privatização.
“Taxa das Blusinhas” Justifica o Déficit?
Outro argumento de Fabiano foi o impacto do Programa Remessa Conforme, que estabeleceu um novo modelo de tributação para compras internacionais. Ele afirmou que a regulamentação teve efeitos negativos nas receitas da estatal:
“Esse resultado que foi divulgado parcialmente se refere a um contexto específico, que foi a regulamentação, compliance, que foi dado a essas compras internacionais. Então isso teve um impacto significativo na nossa empresa e também a precatórios, que são frutos de gestões anteriores, que hoje estão contabilizadas no nosso resultado.”
Esse argumento também levanta questionamentos. A tributação sobre compras internacionais já era prevista há anos, e culpar essa medida pelo prejuízo da empresa soa como uma tentativa de desviar o foco da real questão: a ineficiência da estatal em gerar lucro mesmo com o monopólio sobre serviços postais no país.
Além disso, a referência a precatórios de gestões adas como motivo do rombo sugere falta de planejamento financeiro e gestão ineficaz, já que esses ivos deveriam ter sido previstos e istrados ao longo do tempo.
Fabiano Silva dos Santos Seguirá no Cargo?
Diante dos questionamentos sobre sua gestão e o prejuízo recorde, Fabiano foi questionado se permanecerá no comando da estatal. Sua resposta foi evasiva:
“Isso é uma avaliação que compete ao presidente [da República].”
O déficit bilionário dos Correios reforça a necessidade urgente de uma reestruturação profunda na empresa, mas a estratégia atual parece ser culpar terceiros em vez de enfrentar os problemas estruturais. Enquanto isso, o prejuízo continua aumentando, e a estatal segue sendo um fardo para os cofres públicos.