
O Partido dos Trabalhadores (PT) enfrenta novas acusações de discriminação e exclusão interna após barrar a candidatura da turismóloga Dani Nunes à presidência nacional da legenda. Negra, transexual e moradora da zona oeste do Rio de Janeiro, Dani afirma ter sido alvo de “violência política de gênero e de raça”, o que reacende o debate sobre inclusão dentro do partido que se apresenta como defensor das minorias.
Candidatura barrada por retirada de apoio
Dani Nunes obteve as cinco s necessárias de integrantes do Diretório Nacional para validar sua inscrição. No entanto, uma dessas s foi retirada após o registro, e a comissão organizadora do processo eleitoral considerou essa desistência como válida, anulando sua candidatura com base na perda do número mínimo de apoios.
A turismóloga entrou com recurso, argumentando que o regulamento não prevê a possibilidade de retirada de apoio após o prazo oficial. Segundo ela, a decisão da comissão “fere a boa-fé e os princípios democráticos” que o partido alega representar.
“Fui surpreendida depois de vibrar de alegria. Meu chão ruiu”, declarou Dani. “Não esperava que a atitude individual de uma pessoa pudesse comprometer todo um histórico de luta tanto meu, enquanto mulher trans negra, quanto do partido que leva o nome da classe que faz este país acontecer: trabalhadoras e trabalhadores.”
Comparações com outros casos de racismo institucional
Dani comparou sua situação ao caso da ministra Vera Lúcia, do TSE, que foi impedida de entrar em um evento da Presidência da República, apesar de ser palestrante. A situação da magistrada foi classificada como racismo pela ministra Cármen Lúcia, do STF. Dani disse ter se sentido da mesma forma: “Triste e com o olhar longe”.
Apoio e reação da corrente Raízes do PT
A corrente interna Raízes do PT, da qual Dani faz parte, classificou a decisão como “arbitrária e injusta”, reforçando a acusação de violência política. O grupo também criticou o fato de que a disputa à presidência do partido agora será entre “quatro homens brancos”: Edinho Silva, Valter Pomar, Romênio Pereira e Rui Falcão.
“Me vi igual a ela no plenário, triste e com o olhar longe. Tive a sorte de contar com negros, indígenas, LGBTQIAs e antirracistas que me apoiaram”, disse Dani.
Resposta oficial do PT
Em nota oficial, o PT alegou que Dani Nunes “não cumpriu as regras estabelecidas no Regulamento do Processo de Eleição Direta (PED) 2025 no que diz respeito a apoios”. A eleição interna da legenda está marcada para 6 de julho de 2025.